O luto não aparece só para quando perdemos um irmão ou uma mãe, ou um avô. A gente sente o luto quando alguém com quem nos identificamos vai embora também. Aqueles com quem temos uma conexão.
E o luto é uma parte da dor. Então você expressa sua dor. É importante expressar e faz parte do processo de luto. Apesar de a dor persistir no tempo. Há aqueles que preferem um momento introspectivo. E tudo bem também! Isso sem entrar no demérito das pessoas que usam essa situação de morte de alguém para lucrar com isso, por exemplo, ou para criticar, num momento tão delicado.
Tudo isso que, de uns tempos para cá, alguns chamam de "show", é principalmente para os que ficam, uma forma de confortar um ao outro, trocar memórias e identificação com momentos vividos. E quanto mais vividos, mais intenso ele é. Uma manifestação do carma. Além do sentimento de gratidão proporcionado por esses momentos.
Há quem homenageie pessoas que não se foram. Por décadas. Por quê um fato desse não seria um motivo para tantas homenagens? Pessoas morreram tragicamente em um acidente de avião na ocasião da morte da cantora Marília Mendonça.
Numa tarde de um dia de semana qualquer. Uma pessoa tomava café. Outra, estava fazendo as malas. Outra, desfazendo um relacionamento. Outra sofrendo para conseguir uma promoção ou talvez uma reconciliação. Marília estava indo cantar. E de repente pá! Todo o Brasil vê essa notícia. É de se esperar que houvesse luto pela morte a partir daqueles que de alguma forma tinham uma conexão com a artista.
E mesmo aqueles que criticam essas reações diante da morte de alguém, veja só: também estão expondo. Também estão se expressando.
Que todos nós vamos morrer, isso é um fato. Ninguém precisa apontar o dedo para reafirmar. Quando nos deparamos com uma fatalidade assim, nossa consciência sobre a vida, de alguma forma, muda. Mas é diferente de simplesmente dizer: “você vai morrer” , porque é uma experiência. No pensamento budista isso pode ser chamado de bardo. Dependendo da intensidade, é um pequena amostra de como é a sensação de pessoas que tiveram um episódio de quase-morte.
Alguns tomam uma consciência tão grande que passam a realmente mudar algumas atitudes. Mas para o mundo em que vivemos, com tantas distrações e obrigações, isso é realmente difícil. No dia seguinte, ninguém mais fala ou pensa sobre morte. Como um tabu. Mas a morte também é um processo. Assim como a vida e assim como o luto. E o desapego não é, de forma alguma, sinônimo de apatia. Desapegar é aceitar e, assim, transformar dor em um sentimento de gratidão.
Obrigada por cantar sentimentos, Marília.
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